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1. Qualidades da madeira, piteira e filtro

 

Madeira
Deve ter a resistência necessária para as fases de industrialização: perfuração do fornilho, sua conformação cônica no fundo e a abertura do cabo.

Aparência estética em seu conjunto permitindo um acabamento esmerado.

Suportar a ação de máquinas operatrizes e plena aceitação ao trabalho manual.

Deve ser inodora e insossa. A madeira em nada pode interferir no sabor e no aroma do tabaco, pois o cachimbo deixaria de ser um instrumento neutro e não permitiria que o fumante aspirasse as qualidades do seu fumo predileto.

Deve ter resistência a altas temperaturas. A combustão do tabaco atinge elevadas temperaturas e sua queima saborosa, lenta, fácil e agradável exige do cachimbo uma alta resistência. Em caso contrário a madeira racha ou incendeia-se, o evidentemente não justifica o seu aproveitamento na industrialização do cachimbo por faltar-lhe qualidade para tanto.

 

Piteira
Deve ser de uma rigidez adequada ás suas funções como parte integrante do cachimbo. É oportuno lembrar que a piteira foi feita para ser mordida e não mastigada.

Por estar em permanente contato com a boca, deve ser de material não sujeito a contaminações e isento de ser um catalisador de fatores que possam atrair partículas de sujeira, justamente por ser parte do cachimbo que estará ligada, mais que todas, ao fumante.

 

Filtro
Deve ser de material que não interfira no sabor do tabaco, que seja descartável ou fácil limpeza e, a um tempo, que jamais interrompa o fluxo da fumaça pela sucção ao fumar-se.

 

2. Raiz de roseira é madeira para cachimbo?

Certa ocasião recebemos na fábrica um cidadão simples que queria falar comigo.
- Muito bom dia! – Disse ele bastante animado e falando alto. E começou como se tivesse descoberto um tesouro e estivesse dando uma entrevista.
- Saiba o senhor que eu sempre fui apreciador de cachimbos. Tenho dois Ranieri antigos – e exibiu os cachimbos – e estou muito contente!
- Em que posso servi-lo? Estão quebrados?
- Não, absolutamente! São muitos bons e eu cuido muito bem deles...
Eu não estava entendendo por que o homem tinha nos procurado e queria falar comigo. Minha Expressão curiosa fô-lo ir direto ao assunto:
- É que minha avó cultiva rosas desde que eu tinha uns sete ou oito anos e ultimamente, de tanto eu lhe pedir, ela concordou em fazer-me presente de uma de suas roseiras para que eu corte e da raiz faça um belo cachimbo especial!
Estava tão animado aquele homem. Fez uma pausa e aduziu:
- Por isso é que estou aqui! – seus olhos brilhavam.
Fiquei apiadado do homem. Como poderia dizer-lhe? Mas enchendo-me de coragem e não pretendendo melindrá-lo, falei mansamente;
- E quem disse ao senhor que roseira é madeira para cachimbo?
- O que?! No mundo todo é assim, todos sabem! O senhor não?! – concluiu surpreso.
- Olhe, creio que os que dizem isso espalham a notícia sem saber. Eu modestamente só sei que não serve... – e fiquei aguardando preocupado a sua reação emocional.
- O senhor não sabe mesmo? - não podia acreditar em minha “ignorância” e seus olhos ficaram arregalados.
- Não leve a mal, meu senhor, mas, pelo que sei, nada da roseira é bom pra fazer cachimbos, mesmo que seja uma só peça artesanal, decorativa.
- Não acredito!

Fiquei penalizada com a sua decepção. Por alguns segundos tudo foi silêncio. Ele, remoendo-se e sentindo-se frustrado se acreditasse em mim e mais ainda se deixasse de crer em si mesmo. Estava sendo tempo perdido ter vindo falar comigo. E eu não podia deixar de dizer-lhe a verdade. Instantaneamente um clarão brilhou em minha cabeça:
- Vamos fazer uma coisa? Se o senhor insiste acho melhor arrancar o pé da roseira e trazer o pedaço com a raiz para eu lhe provar o que estou dizendo. O senhor poderá acompanhar o corte que fazemos e então se convencerá. Francamente eu continuava preocupado. O rançoso. Li no seu semblante que não acreditava no que eu dissera e ainda tinha esperanças.
Dois dias depois o homem da roseira apareceu com ela decapitada, enrolada e amarrada em papel grosso dentro de um pacote quase de um metro. Conforme o prometido, eu ia fazer-lhe a prova da oficina; uma cirurgia rápida que o faria triste. Lamentavelmente.
E foi exatamente o que aconteceu. O que eu já sabia e que ele ficou sabendo. Ao ser preparado o cubo como primeiro corte da serra para delinear o seu “cachimbo especial de raiz de roseira”, apareceu uma massa disforme parecida com mandioca cozida, mole e pastosa.
O pobre homem ficou branco. Puxou o próprio cachimbo do bolso, mecanicamente acendeu-o e levou-o à boca.
Silenciosamente se retirou.

Não existem cachimbos de raiz de roseira:
Que fique bem claro: como já foi visto, a madeira utilizada na Europa para a fabricação de cachimbos provém da erica arborea, sendo geralmente utilizada suas raízes e “feridas” nodosas do tronco. Essa madeira encontrada na vegetação da região mediterrânea é chamada na França de bruyère e na Inglaterra de briar, sendo este termo inglês proveniente da língua francesa por corruptela simplesmente fonética; a expressão, portanto, não tem origem na língua inglesa.
Entretanto o cachimbo feito com a madeira erica arbórea é erroneamente considerada como raiz de roseira.
Por que?
Existe uma velha palavra inglesa – brere – que nomina uma espécie de roseira. Assim, com a admissão da palavra bruyère – francesa – que se transformou em briar – inglesa – os britânicos, devido a similaridade vocal com a sua antiga brere, passaram a considerar como sendo ambas as palavras denominadoras da mesma coisa, ou seja, da roseira, julgando ter ocorrido simplesmente uma alteração regionalista na sua grafia e pronúncia e tanto brere como briar têm raízes na língua inglesa, o que não é verdade.
Partindo de uma convicção baseada em premissas inocentemente falsas, essa idéia de povo inglês cruzou os mares e espalhou-se pelo mundo o conceito errado. Bruyére (na França) e briar (na Inglaterra) são nomes da erica arbórea que nada tem a ver com a roseira de qualquer espécie. Não existem cachimbos de raiz de roseira.

 

3. A escolha do cachimbo

Devido a grande variedade de tipos de cachimbos, seja na sua forma ou modelo, vale salientar alguns cuidados ao escolher ao melhor cachimbo.

Como seu companheiro, o cachimbo deverá ter completa integração com você.

Procure na sua beleza, no seu design, um encaixe perfeito em sua mão.

Identifique-se com o cachimbo, se possível, de olhada no espelho com o companheiro na boca, nos ângulos mais variados.

Sinta seu peso. Um cachimbo pesado é cansativo e incomodo de fumar.

Fique atento quanto às marcas falsificadas. Existem fábricas especiais só na fabricação de cachimbos falsos, com a chancela de marcas famosas.

Não adquira cachimbos com o fornilho de fundo chato. Estes forçam cachimbadas mais fortes, provocando mal estar, perda da paciência e errada acomodação do fumo.

Para comprovar a qualidade do cachimbo, examine minuciosamente o acabamento, exigindo sempre uma embalagem própria e adequada, certificado de garantia e nota fiscal do produto.

Prefira os cachimbos apenas encerrado e polido. Os envernizados são apenas para chamar fortuitamente a sua atenção e para deslumbrar momentaneamente seus olhos.

O uso de filtro ou ausência vai ao gosto do cachimbeiro. Se preferir que a substância da combustão do tabaco chegue mais densa à sua boca, dispense o filtro; ao contrário, se você gostar de fumaça aromatizada mais tênue em seus lábios, coloque o filtro.

Um bom cachimbo nunca é muito barato. Preocupe-se com o seu prazer e dimensione as suas possibilidades. Dependendo do nível de exclusividade você pagará o seu justo preço.

Examine detidamente o acabamento do fornilho, o fundo em cone, as suas paredes internas devem ser bem lisas, para adquirir, pelo uso, uma uniforme crosta de carvão. Observe a borda e a sua milimetragem de espessura (deve ser igual em todo o seu circuito).

Recuse um cachimbo em que você sentir aspereza no fornilho ou aquele que tiver bordas “amassadas” e ainda que apresente o furo de contato com o cabo fora de centro e acima do ponto zero da base do fornilho.

Dê destaque também a piteira do corpo. Certifique-se de que o furo esteja perfeitamente centralizado.

A boa piteira é aquela que é fundida juntamente com a sua espiga e do mesmo material formando uma só peça. Assim você estará livre dos dissabores provocados pela dilatação de materiais diferentes.